tag:blogger.com,1999:blog-82286891925847874862023-11-15T05:47:55.435-08:00Rita GuimarãesRita Guimarãeshttp://www.blogger.com/profile/17500844058613573780noreply@blogger.comBlogger3125tag:blogger.com,1999:blog-8228689192584787486.post-52469646550176887692007-11-17T16:43:00.000-08:002007-11-17T17:04:39.961-08:00Estados Unidos, Europa e Brasil<div align="justify">É muito comum, e muito forte na cultura brasileira, se falar do caráter de um povo. <br /><br /></div><div align="justify">Desde os fins do século XIX, a sociologia brasileira tenta dar conta de descrever o que é o brasileiro.<br /><br /></div><div align="justify">Alguns povos se colocam mais esta questão do que outros.<br /><br /></div><div align="justify">Uma espécie de autoconsciência coletiva.<br /><br /></div><div align="justify">Podemos dizer dos franceses, cujo patrimônio histórico comum é tão vasto, que acabam </div><div align="justify">pensando que a nação é uma verdadeira comunidade e um destino.<br /><br /></div><div align="justify">Aos americanos, cabe sempre uma interrogação.<br /><br /></div><div align="justify">E por que?<br /><br /></div><div align="justify">Primeiramente, porque ali estão, devido a um sonho, ainda que herdado (do avô, do bisavô).<br /></div><div align="justify">O sonho de uma vida em outro lugar, onde é possível, talvez, comer, praticar a religião, etc, sem ser perseguido.<br /><br /></div><div align="justify">É um sonho de um futuro.<br /><br /></div><div align="justify">O europeu não tem esta questão.<br /><br /></div><div align="justify">O sujeito é francês, simplesmente porque nasceu na França, não havendo neste processo, uma escolha, um desejo.<br /><br /></div><div align="justify">Eis aí, uma grande diferença subjetiva, já que nas Américas, o sujeito é muito mais interrogado por seu futuro do que pelo seu passado.<br /><br /></div><div align="justify">Podemos pensar aí, o significado da palavra LOOSER, que soa tão forte na maneira de pensar do americano. Quer dizer que, ele está ali por causa de um sonho, dele, ou herdado, tanto faz. É preciso dar conta desta “dívida” com o futuro.<br /><br /></div><div align="justify">O europeu vive muito mais em função de uma “dívida” que ele tem com o passado. Ele está mais preocupado com o que o passado exige dele.<br /><br /></div><div align="justify">Que dívidas são estas do europeu?<br /><br /></div><div align="justify">A França e mais geralmente a Europa são o resultado de um longo passado que viu a miséria, as guerras e as revoluções sociais suceder-se durante os séculos.Durante este período rico uma herança intelectual, arquitetural e patrimonial é constituído.Inconscientemente, no colectivo europeu, uma obrigação de preservação dos acervos tomou lentamente um lugar preponderante.O europeu é consciente que o degrau forçado para a globalização é irreversível.Sabe que o seu futuro, a sua vida, ou mesmo a sua sobrevivência passa pela união das nações européias que como todos sabem faz a força.Mas é convencido que esta união deve fazer-se economica mas também, socialmente.Qualquer ideia de evolução dos valores por um nivelamento dos acervos pela parte inferior lhe é insuportável.O europeu sente-se "investido" de um dever de memória no que diz respeito à sua história.A cultura é a herança fundamental do seu pensamento.Qualquer coisa que poderia retirar-lhe a sua "especificidade" é vivida por ele como um drama.Não quer ser um simples número sobre o livro de conta da humanidade...<br /><br /></div><div align="justify">E o que seria um caráter brasileiro?<br /><br /></div><div align="justify">Sou brasileiro porque gosto do samba e do futebol?<br /><br /></div><div align="justify">O perigo deste tipo de definição está na implicação de que: “Somos brasileiros, malandros, todos à venda, e gostamos do famoso jeitinho”.<br /><br /></div><div align="justify">Ou então, “Não gostamos do conflito”, o que oblitera nossa história subjetiva e coletiva por meio de uma visão muito fácil de nós mesmos.<br /><br /></div><div align="justify">A frase: “O Brasil não é para principiantes”, supõe que a nossa malandragem nos torna especiais e só interpretáveis por especialistas. Pelo contrário, o Brasil é para amadores e principiantes, porque pagar e corromper é muito fácil.<br /><br /></div><div align="justify">O difícil é ser moral, construir uma coletividade em que haja leis, institucionalidade.<br /></div><div align="justify">Ser imoral é que é para principiantes.<br /><br /></div><div align="justify">A malandragem é uma conduta moral para crianças de 9 anos.<br /><br /></div><div align="justify">O difícil é crescer. Governar pagando o cara para votar comigo é que é amador.<br /><br /></div><div align="justify">O Brasil, por não ter conquistado a independência na ponta da faca, manteve uma espécie de complexo de inferioridade permanente em relação às metrópoles culturais.<br /><br /></div><div align="justify">Nossas heranças culturais são menosprezadas e deixadas de lado perante o que o restante do mundo nos oferece, agora muito mais com o processo de globalização.<br /><br /></div><div align="justify">Não há um consenso (salvo raras exceções) sobre o que representa a história do nosso passado, não apenas no que concerne às artes, como também do movimento político, social e econômico até os dias de hoje.<br /><br /></div><div align="justify">Vivemos um momento crítico em relação aos valores morais.<br /><br />Fica difícil dizer de uma identidade, quando nossos objetivos se direcionam aos Estados Unidos, ou à Europa, em busca de ajuda ou de modelos que bem nos atendam num conceito de nossa própria história.<br /><br /></div><div align="justify">Sem uma herança a ser guardada, resta-nos a construção de um sonho.Um sonho que comece a desenhar um carater específico de brasileiro.<br /><br /></div><div align="justify">Qual seria ele?<br /></div><div align="justify"></div>Rita Guimarãeshttp://www.blogger.com/profile/17500844058613573780noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8228689192584787486.post-74833296675843138772007-11-17T16:41:00.000-08:002007-11-17T17:06:28.584-08:00Violência e Psicanálise<div align="justify">Temos acompanhado estarrecidos a violência cada vez maior à nossa volta. <br /><br /></div><div align="justify">Requintes de crueldade bestiais, culminando quase sempre com a morte das vítimas indefesas. <br /><br />Essa mesma banalização da morte, onde queimar corpos, dizimar famílias, o uso de armas de fogo sofisticadas, a disseminação da droga, choca-nos profundamente. <br /><br /></div><div align="justify">Mais recentemente, a criança de seis anos, que morreu arrastada pelo carro roubado por marginais, presa ao cinto de segurança. <br /><br /></div><div align="justify">Não há palavras que cubram ou possam explicar tais ações. Diante desse "real" dos fatos, resta-nos apenas um absurdo inexplicável, que está totalmente fora da lógica que aprendemos como social. <br /><br /></div><div align="justify">Escrever sobre o assunto aqui, nesse gigantesco laço social que é a Internet, é um desejo de compartilhar com os amigos a busca de um sentido qualquer para o que ora vivenciamos. <br /><br /></div><div align="justify">Vamos passo a passo: <br /><br />-Desde criancinhas, já temos presentes pulsões sexuais circulando por nossos corpos. A busca de satisfação dessas pulsões é constante, a obtenção do prazer, não importa por que meios. <br /><br />-Estruturalmente, instaura-se uma lei simbolica para nós, que a psicanálise denomina Nome-do-Pai, lei esta, que vem interditar a obtenção desse prazer maior, tornando-nos aptos a circular no que acima denominei de social. <br /><br />-Circular nesse social, quer dizer, fazer uso da palavra, pertencer a um discurso que possa nomear nossos desejos outros, já que a satisfação completa, fica para sempre perdida a partir da interdição, da lei. <br /><br />-É a partir daí, que se faz possível conviver, trabalhar, amar, enfim, organizar os grupos sociais de uma forma "aceitável". <br /><br />-O não comprometimento com essa lei, o Nome-do-Pai, implica na psicose. A saber, são os sujeitos que se situam fora de um discurso. Para eles, não houve a interdição, não houve o corte fundamental que os introduzisse nos tais laços sociais. <br /><br />-Não precisa ser necessariamente o próprio pai do sujeito, a figura a vir instaurar essa lei. Basta apenas que seja alguém evocado pela figura da mãe, um nome suficientemente forte e capaz de se interpor à obtenção do prazer maior. <br /><br />-Esse Nome-do-Pai é continuamente simbolizado na sociedade, através da figura de dirigentes, juízes, autoridades em geral. Eles estão sempre presentes, lembrando-nos que há barreiras, há proibições, há interdições, há coisas que não podemos fazer. <br /><br /></div><div align="justify">O que temos observado porém, é que essas figuras têm sido falhas, ausentes, não suficientemente fortes para fazer valer os contornos dos limites permitidos.<br /></div><div align="justify"><br />O PAI biológico não tem podido estar presente à criação de seus filhos. Por motivos sociais inúmeros, que não nos cabe aqui ressaltar. <br /><br /></div><div align="justify">A nação tem estado à deriva, sem um PAI, sem a LEI. <br /><br /></div><div align="justify">Os partidos políticos representariam ao povo, o PAI acessível, o PAI interlocutor, dividindo a célula grande (o país) em pequenas células (os partidários eleitores).E lá, numa instância maior, fariam se representar em nossas reinvindicações e desejos, em suma, em nosso bem estar e seguranças. <br /><br /></div><div align="justify">O que vivenciamos ultimamente não está apenas aquém disso, mas sim, estamos absolutamente abandonados à própria sorte (violência, miséria, etcs).Falta-nos esse PAI, falta-nos a proteção, a credibilidade, e o pior, a própria figura de um chefe/imagem identificatória de cidadania e respeito. A horda vai se formando de SEM LEI, SEM TERRA, SEM TUDO, e se avoluma. <br /><br /></div><div align="justify">Uma grande psicanalista francesa, Collete Soller, já se referiu ao termo: "UMA MASSA ESQUIZOFRENIZADA".Nossa indignação e o não entendimento, provêm certamente do que me referi acima: tentamos entender no registro simbólico (fomos submetidos à lei), dentro de um discurso outro, totalmente incompreensível a "bestas" enfurecidas. <br /><br /></div><div align="justify">Estamos impotentes, simplesmente porque o famoso olho-por-olho ou dente-por-dente não cabe no nosso discurso socializado. <br /><br /></div><div align="justify">Resta-nos esperar pelo PAI dirigente honesto, pelo PAI que faz cumprir a lei, pelo PAI que restaure uma imagem de respeito e dignidade. <br /></div>Rita Guimarãeshttp://www.blogger.com/profile/17500844058613573780noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8228689192584787486.post-73419004987870814602007-11-17T16:27:00.001-08:002007-11-17T17:07:37.538-08:00As Escolhas e a Psicanálise<div align="justify">O ato da escolha está presente em nossas vidas, ainda que disso não tenhamos consciência. <br /><br />De uma forma geral, colocamo-nos no lugar de vítimas de um inesperado, da própria sorte, ou ainda, buscamos desesperadamente explicações religiosas, genéticas ou o que possa melhor nos situar em certos contextos.</div><div align="justify"><br />Seguimos em frente, sem que saídas possíveis se vislumbrem em nossos caminhos. <br /><br />O que é pior, somos detentores de algum conhecimento sobre os nossos sofrimentos, mas deles não queremos saber, evitando-os, fugindo e construindo "defesas poderosas" para que não tenhamos que nos haver com nossas questões. <br /><br /></div><div align="justify">Óbvio que essas defesas nem tão infalíveis, costumam "capengar", falhar e deixar que brechas se abram em nossas construções de tais saberes. <br /><br /></div><div align="justify">É o momento em que o sintoma faz as vezes de "remendo/compromisso" com o nosso inconsciente, substituindo a verdade temida por um sofrimento qualquer. <br /><br /></div><div align="justify">Todos nós, muito bem conhecemos crises inúmeras e inexplicáveis de pequenas doenças e até mesmo as mais graves, que se instalaram sem "explicações" plausíveis. A enxaqueca que nenhum médico dá conta, as crises alérgicas respiratórias ou dermatológicas, os resfriados constantes, a diarréia que antecede a uma decisão importante, enfim, poderíamos enumerar aqui um sem fim de sintomas que "utilizamos" em nossas vidas, encobridores de uma outra verdade. <br /><br /></div><div align="justify">Fica muito difícil dizer de escolhas perante tais sofrimentos. <br /><br /></div><div align="justify">Como posso ter escolhido um amor impossível? <br /><br /></div><div align="justify">Como escolhi fracassar no que mais sonhei para minha vida? <br /><br /></div><div align="justify">E o que dizer da própria sexualidade, uma escolha feita ainda na infância? <br /><br /></div><div align="justify">Buscar acomodação num lugar de queixosos é bem comum, e se incômodos maiores não impedirem, aí permanecemos por um bom tempo, se não, por toda a vida. <br /><br /></div><div align="justify">A depressão, também conhecida como covardia moral, é uma outra saída, que nos dias de hoje se impõe como um mal estar da modernidade. Aí estão as "pílulas milagrosas", e as inúmeras justificativas para o uso das mesmas. Todas elas, com o "aval" de uma sociedade que qualifica os bem sucedidos e felizes e desqualifica o fracasso. <br /><br /></div><div align="justify">Tal remédio nos faz dormir, um outro nos faz felizes, mais um ... <br /><br /></div><div align="justify">Vale tudo, menos assumir que há uma verdade outra a ser dita. <br /><br /></div><div align="justify">Implicar-nos em nossas escolhas, tomar as rédeas e responsabilidades do que somos e buscamos não é uma tarefa fácil. <br /><br /></div><div align="justify">É exatamente a partir de um sintoma que o angustia e o move na direção de uma cura, que o sujeito busca uma análise. <br /><br /></div><div align="justify">Ali, ele vai demandar do analista um "suposto-saber" sobre o seu mal. <br /><br /></div><div align="justify">É a partir dessa demanda, que o analista trabalha esse saber na transferência, tornando possível </div><div align="justify">um percurso, em que o próprio sujeito construa sua história de vida, retomando um "fio da meada" no seu próprio sintoma. <br /><br /></div><div align="justify">Fio da meada esse, que o levará aos primórdios de suas escolhas e às vias possíveis de novos posicionamentos na vida.<br /><br /></div>Rita Guimarãeshttp://www.blogger.com/profile/17500844058613573780noreply@blogger.com1